Xixi
or not xixi
Texto de Tatiana Rocha
Xixi
é um santo remédio.
Tem
um povo aí que acredita na urinoterapia.
Pois
é, xixi como remédio natural.
Ai,
tô co dor de cabeça, vou dar uma mijadinha, tomar um copinho
e já volto.
Ui,
que dor nas costas, vou dar uma mijadinha e fazer um emplasto
que já, já passa.
Não
acredito nisso e mesmo se funcionasse que era uma beleza
prefiro tomar um chazinho, um xaropinho ou um antibiotiquinho.
Mas
sei de uma utilidade única do xixi: é a melhor coisa pra
cortar feitiço de macumba.
Eu
não acredito em xixi-remédio, mas acredito em macumba.
Cresci na Bahia, meu filho, e já vi foi coisa. Aquele
papo: não creio em bruxas mas que elas existem, existem.
E
nesse meio macumbístico-místico-prático eu cresci ouvindo
que se você encontra um despacho - e é pra você, é claro-
você faz xixi em cima que corta a intenção maléfica. Afoga,
em mijo, todo o mal.
Bem,
um dia, quando eu era uma jovem menininha de 12 anos morando
em Fortaleza, abri o portão de minha casa e dei de cara
com um macumbão daqueles cinematográficos, daqueles que
a Universal adoraria mostrar nos seus programas. Uma puta
de uma cabeça de jumento, os dentões pra fora, os olhos
arregalados, um monte de velas, pratos, comida, farofa,
o caralho! Deu um berro daqueles, com toda forçados meus
pulmõezinhos de não fumante e na mesma hora a rua tava
cheia de gente pra ver a tal macumba que, realmente, conseguiu
impressionar todo mundo! Se tamanho é documento, aquilo
ia matar meio quarteirão, praticamente seria um assassinato
em massa, quase um atentado terrorista místico.
Na
mesma hora minha sábia mãezinha disse, cheia de autoridade:
-Vamos
fazer xixi em cima!
-Tá
louca, mãe! Fazer xixi! - meu irmão sempre foi um descrente
- que besteira, que crendice!
Mas
ele não chegava muito perto, falou isso lá da porta da
sala.
Só
tinha um problema.Como se faz xixi em cima de uma coisa
enorme??? Meu irmão, o único que poderia utilizar seu
útil pinto pra mirar assim meio de longe e acertar o macumbão
se recusou a passar esse vexame, minha irmã era uma criancinha,
os vizinhos saíram correndo de perto porque, além da macumba
não ser para eles (tinha endereço, CEP tudo certinho)
pressentiram que ia ter cenas chocantes. Ou seja, sobrou
pra mim e pra minha mãe.
-Vamos
lá minha filha. Vamos mijar em cima.
-Mas
mãe, aqui? Assim? Na rua?
-Deixa
de besteira, menina e mija logo.
-Mas
mãe não dá pra fazer uma cabaninha?
-Deixa
de frescura e mija logo neste caralho!!!!
E
prontamente, abriu as pernas, levantou a saia e mijou.
Eu
estava constrangidíssima, uma adolescente passar por isso,
mas não ia deixar minha mãe sozinha ali, ela nem devia
ter xixi suficiente para alagar tudo aquilo, então resolvi
usar da tecnologia moderna. Entrei em casa, fiz xixi em
um copo ( de nervoso deu mais de dois) e saí no portão
e joguei copo, xixi, a porra toda de uma vez só. E minha
mãe dizia:
-Reza,
minha filha. Mija, reza e joga!!!!
E
eu rezava, não tinha mais xixi pra jogar, joguei tudo
de uma vez, pelo jeito foi um erro, tinha que jogar de
pouquinho, rezava mais alto, olhava pro lado, morria de
vergonha, morria de medo , tudo ao mesmo tempo. Um terror.
Nem
me lembro quem foi que tirou aquela coisa medonha da frente
da casa da gente. Acho que foi um vizinho evangélico que
não acreditava em macumba. Mas fiquei impressionadíssima
com a imagem que vi, a cara do jumento me perseguiu muito
tempo.
Se funcionou ou não, eu não sei dizer. Mas se os cachorros
delimitam território com urina, talvez funcione com gente.
Pelo sim pelo não, sempre quando mudo de casa, dou um
jeito de dar uma mijadinha de boas vindas na entrada,
direto no chão, pra garantir que nenhuma coisa ruim entre
pela minha porta.
Pode
ser só crendices, como meu irmão sempre falou, mas prefiro
garantir.
Afinal,
tem gente que bebe!
Eu
só jogo no meu chão e é uma vezinha só.