RELEASE
 

Nasci em Niterói, filha de uma carioca e de um pernambucano, mas, ainda muito miúda, fui morar em Salvador.

Ao treze anos comecei a aprender violão. Incomodei muitos os vizinhos porque fazia questão de tocar na varanda do nosso apartamento e obrigava todo mundo a ouvir. Mas foi nessa mesma varanda que recebi meu primeiro aplauso acompanhado de gritos de "tá melhorando, tá melhorando". Este vizinho é responsável por tudo que se seguiu.

Aos 17 anos comecei a tocar nos bares em Salvador, mas meu começo foi de surpresa. Na verdade, eu era a garçonete. Péssima, por sinal. Uma noite, o músico atrasou demais e o dono do bar, desesperado, me colocou lá no palco, enchendo lingüiça, até que ele pudesse ir buscar outro cantor. Quando eu desci do palco, trêmula e assustada, ouvi uma cliente me dizer - " larga esta bobagem de ser garçonete porque você é terrível e vá cantar que a gente ganha mais".

Achei o conselho sábio e assumi a carreira.

Cantei em muitos bares e fui apadrinhada por alguns dos melhores músicos de Salvador.

Aos 20, me mudei para Campinas e fui estudar no IFCH, Unicamp. Comecei a tocar em parceria com Carô. Na época éramos as únicas mulheres que cantavam e tocavam na cidade e ainda tínhamos uma entrada só com abobrinhas, músicas besteirentas que todo mundo cantava. Fazíamos o maior sucesso e nos divertíamos adoidado.

Carô tomou outros rumos profissionais e eu continuei sozinha.

Por ser uma cantora expressiva, fui convidada a trabalhar em espetáculos de teatro. Fiz musicais, peças infantis, e o bichinho do teatro me pegou de vez.

Em 95 fui convidada a fazer a trilha de um espetáculo de teatro de rua que falava sobre prevenção à AIDS. Foi meu primeiro trabalho de composição que abriu uma comporta que eu nem sabia que tinha. As músicas me perturbavam, tomavam minha sanidade até o instante que eu as pusesse para fora.

Virei compositora por pura necessidade de equilíbrio interno. Depois disso não parei mais.

Adoro adrenalina que acontece no palco. Sou uma cantora que fica feliz de baixo das luzes, gosto do cheiro de ácaro que todo teatro tem. Gosto de me expor, de arreganhar meu coração, minha emoção toda ali, não tenho medo de ser visceral.

Eu sempre digo que não tenho natureza de diva porque descabelo, suo, a maquiagem derrete, o esmalte da unha descasca, no final do show estou um ser absolutamente desarrumado, mas é só assim que eu sei cantar. Em entrega completa.

E compondo também ponho os bichos para fora. Aqueles que me machucam o peito, que me fazem chorar ou rir, que me incomodam, que só me dão sossego quando deixo sair. Minha composição é catártica também.

Sofrimento e delícia em cada canção parida. Dói, é bom e eu sempre preciso de mais um pouco. Um tipo de vício.

Por essa imensa necessidade de expressão comecei a escrever. Copiosamente. Histericamente. Tanto que fiz um blog para poder dar vazão a tudo aquilo que eu sinto e vejo por aí e que, de certa forma, complementa tudo aquilo que digo quando estou cantando. Uma outra forma de linguagem que me abriu um novo mundo.

É isso. Eu acho que eu sou uma coisa assim. Um tipo de excesso. Uma mistura de voz e letra. De canto e suor. Histórias cantadas, um olho observando o mundo e tentando registrar poesia e riso nesse mesmo mundo.

Uma cigarra em mundo de formiga.

 

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Última atualização em 08 de fevereiro de 2011