O
que é que a baiana tem?
Blog Verbo Vadio
Marina Franco, jornalista
http://www.verbovadio.blogsopt.com
Tatiana
Rocha vai fazer um show com canções de Carmem Miranda. Por
coincidência, estou acabando de ler sua biografia (da Carmem),
escrita pelo Ruy Castro. E sem coincidência alguma, mas
por identificação mesmo, Tatiana Rocha é minha amiga. Portanto,
não posso deixar de achar engraçado e instigante o encontro
destas duas mulheres singulares.
Não,
Tatiana não vai usar balangandãs nem turbantes na cabeça,
tenho certeza. Também não vai dançar revirando os olhinhos.
Ela vai se apropriar de Carmem e cantá-la a seu modo, como
faz sempre com tudo o que interpreta. Cantar Carmem sem
ser Carmem não é para qualquer uma, mas a Tati pode.
Carmem
Miranda explodiu no Brasil na década de 30. Era idolatrada
por aqui antes de cometer o fatal erro de seguir a carreira
em Hollywood e virar piada de gringo. Antes de virar aquela
personagem caricata de sotaque latino dos filmes americanos,
Carmem encantou as platéias do Brasil com um jeito único.
Além da performance de palco e da grande artista que era,
sua biografia mostra um lado muito legal da cantora. Um
lado assim, meio Tatiana Rocha.
A
"pequena notável" conversava com todo mundo, ria alto, chamava
atenção. Não tinha preconceito, não fazia distinção entre
pessoas, amava cantar e estar com os amigos. Era direta,
falava na cara, resolvia tudo sozinha, fazia questão de
estar por dentro do que acontecia a sua volta. Odiava injustiças
e histórias mal-resolvidas. Defendia os fracos e enfeitiçava
os poderosos. Sua casa na Urca vivia cheia de músicos e
compositores, fazendo sambas para ela e cantando até raiar
o sol. Noel Rosa, Dorival Caymmi, Cartola, Lamartine Babo,
Francisco Alves, Silvio Caldas, ela tinha o poder de reunir
todo mundo mesmo. Era amiga das camareiras dos teatros,
das socialites, das casadas e das meretrizes. Foi musa dos
sambistas do morro e dos compositores da elite. Parece alguém
que conhecemos?
Apesar
das diferenças de tempo, de estilo e de trajetórias, existe
entre Carmem Miranda e Tatiana Rocha uma energia comum,
um olhar parecido, uma maneira quase similar de encarar
a vida e tratar as pessoas. Eu vi minha amiga no livro diversas
vezes, fazendo piada com a própria desgraça, encantando
platéias, rindo a se ouvir de longe, deixando o mundo um
pouco mais alegre, colorido e humano. Com certeza eu estarei
na próxima sexta, na Praça Carlos Gomes, para assistir este
encontro único e mediúnico.
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