Foto: Betho Feliciano

 

Bate Bola: Bruno Ribeiro e Tatiana Rocha completamente sóbrios numa cozinha totalmente bêbada
Cosmo Online e Cumbuca
http://www.cosmo.com.br e http://www.cumbuca.com.br
15/11/2005
doc - conferir na internet

 
IMPRENSA
 

Bate Bola: Bruno Ribeiro e Tatiana Rocha completamente sóbrios numa cozinha totalmente bêbada
Cosmo Online e Cumbuca
http://www.cosmo.com.br e http://www.cumbuca.com.br
15/11/2005

A cantora e compositora Tatiana Rocha poderia ter nascido no dia de São Jorge, mas veio um dia antes - porque senão ia dar pau com Ogum - a 22 de abril de 1967. Natural de Niterói, foi criada na Bahia e veio dar cria em Campinas, onde foi ficando, ficando e ficou. Meu primeiro contato com sua música se deu por acaso, na bendita noite. Não me lembro quando, onde e por que, mas a música nunca pude esquecer: O Nosso Amor, que ela tratou como empada de estrada, como mulher maquiada e como bunda de neném. Quase 10 anos depois de eu me tornar seu fã, tive a oportunidade de me tornar também seu amigo e coordenar um fracassado projeto musical no teatro do Centro de Convivência, no qual ela teve participação fundamental. O fracasso do projeto veio no decorrer, por conta da "burrocracia" do poder público, mas a estréia foi retumbante e rendeu um belíssimo registro ao vivo, que tive a honra de ser o primeiro a ouvir. Tati é a minha cantora preferida. Como compositora só fica atrás da Dolores Duran. E como chef de cozinha é capaz de deixar até a mama no chinelo. Domingo, na minha casa, em Sousas, Tati fez sua especialidade: um cozido à baiana do tipo inesquecível, para alimentar o samba que comia solto na mesa. E, entre uma cachaça da terra e outra, concedeu esta entrevista definitiva:

Cumbuca - Você nasceu no Rio de Janeiro, foi criada em Salvador e veio parar em Campinas, uma cidade onde a música ao vivo é quase proibida nos bares. Afinal de contas, o que é que você ainda tá fazendo aqui?

Tatiana - Eu até tentei ir embora! Em 89 eu parti pra ter meu filho em Salvador, voltei em 91. Em 92 fui embora de novo e o destino me trouxe de volta. Aí eu desisti! E tenho que confessar que Campinas sempre foi muito generosa comigo. Brigo, reclamo, praguejo, mas sempre que preciso de alguma coisa, Campinas me dá. Não cuspo no prato que como!

Se você pudesse eleger os três discos que mudaram a sua vida e o seu modo de encarar a música, quais seriam?

O primeiro vinil que ganhei marcou pra sempre. Mel da Maria Bethânia. Foi um sucesso estrondoso na época e eu sofria para tocar as músicas tentando tirar de ouvido. Bethânia me mostrou a necessidade de elegância, bom gosto e coerência. O primeiro disco de Luli e Lucina também foi muito importante para mim: som alternativo, cheio de poesia, duas mulheres cantando, tocando, compondo com uma forte influência bicho-grilo. Aquelas harmonias eram complexas para a época e meu ouvido deu um nó para entender o que elas faziam. E, confesso aqui, me acabava ouvindo as Frenéticas. Aquela coisa alegre, cheia de humor, esculhambando tudo e todos. Acho que elas fizeram parte da minha formação como artista, não só como musicista. Me ajudaram a assumir irreverência, o bom humor. Naquela época elas eram o máximo da esculhambação e eu adorava aquilo.

De todas as tuas composições qual a que te dá maior orgulho? Ou você também acredita na besteira de que elas são como filhos e não dá para escolher apenas uma?

Acho que algumas parcerias que fiz me causam essa sensação de orgulho, porque você colocar palavras em uma música pronta é mais complicado, tem que ter mais sensibilidade. Fiz duas letras muito boas que eu me orgulho, pronto, assumi: Mar e Lua com Fernando Siqueira é do caralho pela idéia desenvolvida. E Comunhão, com Gustavo Souza, foi uma letra que fiz pensando no que um homem apaixonado falaria para sua bem amada que não dava a mínima bola. Fiz a letra, mandei pra ele, ele cantou, gravou e mandou para a moça. Hoje estão casados e gosto de acreditar que tenho participação nisso.

Qual a vantagem e a desvantagem de namorar um músico?

A vantagem é o cara saber como é a vida de músico. Tem aquele monte de bêbado com olhares lânguidos e quem é músico sabe que isso acontece porque álcool e música faz todo mundo ficar mais lindo, mais gostoso, mais interessante. Músico entende que nem sempre a paixão é pela pessoa, na verdade é pela figura. Eu sempre digo que é só colocar um violão na mão de qualquer um, botar o nego em cima de uma caixa do Ceasa e mandar ele cantar pra ter alguém disposto a ver a beleza da alma do cidadão. Palco é afrodisíaco forte! A parte chata de se ter um companheiro músico é ter dois duros juntos o tempo todo. Isso é realmente muito desagradável.

E quando é que você roda a baiana?

Com a mulherada folgada. Porque mulher não tem medo de apanhar, como homem tem. O universo masculino tem regras claras que são seguidas e a mulherada não tá nem aí! E tem horas que é um tanto cansativo essa história de ver mulher dando em cima do cara que tá com a gente. A minha vantagem nesta questão é que sou grande e forte e quando me irrito de verdade não tenho a mínima vergonha de distribuir umas bolachas. Se preciso, bato como homem. E já fiz isso.

Você acredita em gnomos ou, assim como eu, também acha que eles não passam de ácaros?

Acredito em gnomos, fadas, na paz mundial, na existência de vida fora da Terra, no poder da mente, do amor e do dinheiro. Sou uma crédula. Se você me disser que viu ET, eu acredito. Acredito em macumba, em reza forte, em vodu, no poder das ervas, do patuá. Acendo vela pro santo, pros orixás, pro anjo da guarda, pro povo da rua, dou maçã pra elemental, tenho cristal pela casa toda, faço mantra em japonês, tenho ferradura, trevo de quatro folhas, pé de coelho e água benta. Só não acredito no Diabo. De resto, traço tudo.

Se pudesse salvar apenas um livro do incêndio, que livro você salvaria?

Acho que levaria um livro francês que eu tenho, raríssimo, de Tarô. Paguei uma fortuna por ele e não consegui ler uma única página porque o meu francês se resume em sutiã e abajour.

Você acha que a gula é mesmo um pecado?

Não. Gula é um desvario.

O que você faz para comer um cozido à baiana inteiro e não engordar?

Laxante. Muito laxante.

Você quer ir para o Céu ou só vai se for Open-Bar?

Quero ir pro céu porque acredito que cada um tem o céu que cria. O meu será muito animado, cheio de música, uns moços bonitões e semi-nus passando pra lá e pra cá, litros e litros de coca-cola, uns petiscos pra beliscar e um violão encostado na nuvem mais próxima. Bem...analisando minha descrição de céu, me parece mais um botecão. Acho que meu céu é um botecão!

Você acha que quando terminar o mandato, o Lula e a Dona Marisa vão levar para São Bernardo os talheres e a roupa de cama do Palácio da Alvorada?

Mas quem não leva uma lembrancinha, um mimo? Claro, meu bem.

Você acredita em gente que tem aperto de mão mole? Por que?

Não. Tem que apertar forte e olhar no olho. E tem lá alguém que pega mole que valha à pena??????

Qual a música que você não agüenta mais cantar em barzinho?

Chão de Giz!!!

O que tem dentro da sua bolsa?

Hoje tem a carteira com documentos, pouco dinheiro, cartões, cheque, escova, OB, absorventes de vários tamanhos, duas camisinhas, um batom quase acabado, um vidrinho de perfume, seis canetas, uma estourada, um lápis, uma revista de exercícios de lógica, uma borracha, um vidro de remédio homeopático (para TPM que tá me matando!), minha agenda, meu celular, meu antigo celular da VIVO que eu matei, um cartão telefônico, todos os recibos assinados da diarista que trabalha em casa, uma pinça, um estilete, a chave do carro, uma sapatilha, um protetor solar 30 para o rosto, um CD meu, uma turmalina negra e um cristal branco, uma calculadora pequena, um lápis de olho dourado e outro grafite, dois isqueiros, um carimbo com meu nome e meu telefone, um elástico de dinheiro, vários clipes, moedas soltas, o carnê pago das casas Bahia, um maço de Marlboro e um potinho de bupropiona que é para parar de fumar. Só.

Você também queria dar para o Chico Buarque ou já passou dessa fase?

Sempre, meu bem. Dar pro Chico é uma necessidade básica de toda mulher.

No palco de quem você jamais subiria?

Agnaldo Timóteo. Tenho ímpetos de esbofeteá-lo.

Qual foi a maior gafe que você deu na vida?

Eu sou mestre em dar gafes, falar merda, dizer besteiras. Já dei parabéns em funeral, já chorei, em velório de desconhecido, mais que a viúva, já disse que o neném recém-nascido era feio de doer para a mãe, sem sabe que ela era a mãe e, a pior, me pegaram de surpresa e me mandaram cantar uma canção para o aniversariante e não vinha nada na minha cabeça. Aí eu lembrei que ele gostava de samba antigo e lancei essa: sei que vou morrer não sei o dia...levarei saudades da Maria... O coroa tinha câncer de próstata!!!

Sexo antes do show atrapalha o desempenho da cantora?

Nunca fiz isso. Não tenho idéia. Fico tão ligada nas questões do show que se aparecer um pinto perto de mim, me futucando, pedindo atenção, eu corto fora!

O que mais te ajuda na hora de compor uma canção? O silêncio ou a balbúrdia?

Silêncio e solidão. Não fale comigo, não dê palpite, não passe do lado e jamais, nunca mesmo, diga que parece com aquela música de não sei quem.

Quais são os músicos e compositores campineiros que você mais admira?

Admiro muito o compositor Marcílio Menezes. Ele tem um trabalho de composição muito bom que eu não vejo aparecer tanto. Silo Sotil tem coisas que me impressionam, especialmente quando em parceria com Rodrigo Sensial. Gosto muito de Tais e Henrique pelo bom gosto e carisma que têm. Ding Dong já virou uma entidade. Não têm como não se impressionar com a capacidade dele contagiar as pessoas.

 

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Última atualização em 07 de outubro de 2009